Nos últimos meses, alguns bancos passaram a anunciar Pix Automático “de graça”. O apelo é imediato. Zero tarifa. Zero atrito — na promessa. Mas o custo real não está no preço da transação. Está no modelo: quem fica no comando da sua operação.
Imagine que você assina um plano de telefone. Meses depois, descobre que outra operadora oferece mais dados por um custo menor. Antigamente, mudar era um processo burocrático. Hoje, você faz a portabilidade em minutos.
Agora, pense no seu empréstimo ou financiamento. A lógica deveria ser a mesma, mas a realidade é outra. A portabilidade de crédito no Brasil até existe, mas o processo é tão manual, lento e cheio de fricção que a maioria dos clientes "fica por inércia".
O Open Finance está prestes a transformar essa realidade. O cronograma do Banco Central prevê a entrada em operação da portabilidade de crédito 100% digital para fevereiro de 2026.
A mudança não é uma promessa, é uma mudança na infraestrutura. O processo manual, que dependia de troca de informações lentas entre bancos, será substituído por APIs padronizadas.
Para o consumidor, a jornada será visivelmente mais simples:
A "concorrência" deixa de ser abstrata. Ela ganha uma regra clara e um cronômetro. A inércia deixa de proteger a instituição.
O Banco Central definiu um ritmo claro para essa transformação:
A implementação começará pelas modalidades mais simples, como o Crédito Pessoal "Clean" (CPC), que são empréstimos sem garantia. A expectativa é que, após essa fase, a funcionalidade se expanda para linhas mais complexas, como o crédito consignado.
Mesmo antes da operação plena, o mercado já testa a tese. O Banco do Brasil, por exemplo, anunciou ter ultrapassado R$ 2 bilhões em volume de portabilidade de crédito com base em dados do Open Finance, atendendo mais de 57 mil clientes.
Isso é um forte indicador de que, quando o processo é digital e simples, existe um apetite real do consumidor pela mobilidade.
Quando a informação flui sem atrito e o cliente ganha autonomia, o mercado se torna mais transparente. Instituições financeiras (bancos ou fintechs) são forçadas a competir pelo cliente com base em fatos: juros menores, prazos melhores ou uma experiência superior.
No médio prazo, a tendência é uma redução no custo do crédito no Brasil. Juros menores significam mais espaço para investir, consumir e crescer.
O Open Finance começou permitindo que os dados fossem vistos. Agora, ele está permitindo que o crédito seja movido. Em 2026, o poder de decisão muda de lugar: ele sai da burocracia do sistema e vai para o clique do consumidor.
Postado por
Victor Braga